sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Korngold - Sinfonietta Op. 5 (OSESP, 29/11 a 01/12)

Uma das atrações da série de concertos da OSESP desta semana é a Sinfonietta do compositor austríaco Erich Wolfgang Korngold (1897-1957). A Sinfonietta, composta em 1912, quando o compositor tinha apenas 15 anos, parece um milagre pelo tamanho da orquestra e riqueza da orquestração. Não foi à toa que o grande Gustav Mahler o chamou de "um gênio musical". Naturalizado cidadão americano em 1943, Korngold tornou-se conhecido por suas músicas para cinema.
A Sinfonietta já apresenta muitas características de música cinematográfica -- como a densa orquestração, com a orquestra tocando e peso, momentos de clímax... Ele foi um precursor desse estilo, influenciando compositores de trilhas sonoras de Hollywood.
Na bela Sinfonietta, merecem especial destaque o belo solo de corne inglês no delicadíssimo terceiro movimento, a participação dos metais (sobretudo no quarto movimento, que começa com uma participação marcante dos contra-baixos), as linhas das duas harpas e o diálogo das harpas com as cordas, dentre tantos outros belos momentos que agora e fogem à memória.
É quase inacreditável que essa obra tenha sido composta por uma criança de 15 anos. Se a estreia não tivesse ocorrido em 1913, seria compreensível que alguém duvidasse da informação.
O que a OSESP nos apresenta nesta semana é uma obra pouquíssimo executada -- uma pesquisa feita pelo maestro Neschling revelou que constava na programação de apenas duas orquestras do mundo inteiro (sendo uma delas a OSESP) neste segundo semestre de 2007. Também é difícil encontrar gravação da Sinfonietta, de modo que tivemos a experiência de ir ao concerto para conhecer um compositor e uma obra! Essa é uma experiência muito significativa em tempos que, como observa o maestro Harnoncourt em seu Discurso dos Sons, vamos a concertos para discutir a performance dos intérpretes, e não as obras. Estas já são por nós conhecidas, já nos foram mostradas. Isso é o oposto do que ocorria no período anterior ao romantismo, quando os concertos tinham a função de apresentar as obras contemporâneas ao público.
Grande iniciativa da OSESP! Não perca!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Beethoven - Concerto Triplo (OSESP, 29/11 a 01/12)




O Concerto Triplo para Piano, Violino e Violoncelo em Dó Maior, Opus 56 de Beethoven, foi composto entre 1804 e 1805 e integra os concertos da maturidade do compositor. Ao contrário de outras obras do mesmo período, este concerto não apresenta elementos que nos permitam considerá-lo como uma das obras-primas de Beethoven. O seu interesse está na inovação por ele apresentada: além da introdução do trio como solista de um concerto -- não usual no classicismo --, o violoncelo ocupa o papel principal do trio.
Beethoven não compôs um concerto para cello -- seria, portanto, o concerto triplo o o ocupante da lacuna deixada. Prova disso é que, logo no primeiro movimento, o primeiro tema é introduzido pelo cello, seguido pelo violino e, só depois, pelo piano -- geralmente o instrumento dominante dos trios da época.
Por mais que se façam críticas técnicas ao concerto, ele é uma beleza para se ver e ouvir! Com três movimentos, allegro, largo e rondo alla polacca, permite ao trio de solistas uma demonstração não exagerada de virtuosismo. No primeiro movimento, o mais longo e talvez o mais envolvente, está presente a melodia popularmente mais difundida do concerto.

Na OSESP teremos como solistas três músicos que fazem parte do corpo da orquestra: o spalla Emmanuele Baldini ao violino, Johannes Gramsch (cello) e a pianista Olga Kopylova. A regência ficará a cargo do maestro John Neschling.

No Youtube há um vídeo do concerto tríplice: a famosa versão de Barenboim, Perlman e YoYo Ma, com a Filarmônica de Berlim
1º.Mov
http://uk.youtube.com/watch?v=K0X8b-t-N2A
http://uk.youtube.com/watch?v=kX1Y9ID_2QA&feature=related
2º.Mov
http://uk.youtube.com/watch?v=XP9oODcLlKA&feature=related
3º.Mov
http://uk.youtube.com/watch?v=Drqk9re0keY&feature=related
http://uk.youtube.com/watch?v=Zg8j5Lyxtng&feature=related
http://uk.youtube.com/watch?v=hP9v87bNShU&feature=related

Maiores informações sobre a programação da OSESP.

domingo, 25 de novembro de 2007

Iván Martín - Recital de Piano (26-11)


O jovem pianista espanhol Iván Martín estará nesta segunda-feira, 26 de novembro, às 12:30, na Igreja Beatro José de Anchieta (Páteo do Colégio), para um recital com obras de Scarlatti, Soler, Beethoven, Albéniz e Teobaldo Power. O pianista de 29 anos é um dos destaques de sua geração.

A Quinta Sonata para Piano de Beethoven, Op. 10 n. 1, data de 1798 e foi composta nos primeiros anos do compositor em Viena. Pertence à chamada primeira maturidade de Beethoven. Foi a primeira sonata com apenas três movimentos por ele composta. São eles: Allegro molto e con brio, Adagio molto e Finale Prestissimo.
Para mais informações sobre a sonata, consulte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sonata_Op._10_n._1_(Beethoven)

Sobre o recital: http://www.vivamusica.com.br/evento.php?id=21811

Macbeth (Verdi)



Franz Werfel e eu ouvimos Macbeth, de Verdi. Vista inteiramente à luz do céu italiano, a obra é bastante antishakspeareana. A natureza é algo distante do italiano. Ela está sempre sorrindo, e não encerra, portanto, nenhum conflito.

Não há brumas místicas, nem nuvens escuras, carregadas. (...)

A Verdi só interessa o que se passa dentro das pessoas, ou as situações... cada estado da alma ele o transforma magistralmente em música; em passagem alguma a natureza se revela, o que quase sempre ocorre em Beethoven, Wagner, Weber e outros.

As aparições de fantasmas no Macbeth de Verdi são, portanto, vazias de sentido, não surtem qualquer efeito. Para Shakespeare, elas são concebidas como o sofrimento de Macbeth; projeções, na natureza e na floresta, de frutos da imaginação.

Em Verdi, a natureza não está presente. E, por ser filha de um paisagista, a mim me falta esse enorme entourage.
(Alma Mahler-Werfel. Minha Vida, Ed Martins Fontes, 1988, pp. 236-237)

Com essas palavras Alma Mahler comenta a ópera Macbeth (1847), de Giuseppe Verdi (1813-1901), com libreto de Francesco Maria Piave, baseado na obra homônima de William Shakespeare, que está em cartaz no Theatro São Pedro, São Paulo. Pertencente ao romantismo italiano, a ópera é um dos destaques da juventude de Verdi. Foi composta em 1847 e revista e retocada pelo próprio compositor em 1865 – poucas alterações significativas foram feitas na partitura.

Com poucas melodias orquestrais marcantes, o papel dos solistas e do coro se sobressai ao da orquestra. Certamente Macbeth, bem como o não terminado O Rei Lear, não são as adaptações verdianas de Shakespeare mais acertadas: Otelo e Falstaff, compostas aproximadamente 40 anos mais tarde, são indiscutivelmente superiores.

E o fato de que Verdi, habilidoso homem de teatro, não tenha conseguido elevar-se, por vezes, à altura do drama escolhido, nos faz pensar no perigo que representa, para o esforço de trabalhar sobre um texto de Shakespeare. (Alejo Carpentier. O Músico em Mim, Ed Civilização Brasileira, 2000, p. 273).
A afirmação acima é do escritor e musicólogo cubano Alejo Carpentier.

A bem-sucedida estréia deu-se 14 de março de 1847, no Teatro della Pergola, sob a regência de Verdi. Conta-se que o compositor teve que voltar ao palco 38 vezes para receber os aplausos da entusiasmada platéia.

A história se passa na Escócia, no século XI. Sob o reinado de Duncan, o guerreiro Macbeth é saldado como 'Sir' de Glamis, Cawdor e rei por três bruxas. Como as duas primeiras previsões das bruxas se confirmaram rapidamente, ele assume seu destino de rei e, incentivado por sua esposa, assassina o rei, tomando, assim, seu lugar no trono. Vários crimes se sucedem, sempre com o objetivo de sua manutenção no trono. O reinado de Macbeth é marcado, pois, por uma tirania sangrenta, gerando um grupo de insatisfeitos que, liderados por Macdoff, derrubam Macbeth e entregam o trono a Malcolm, herdeiro de Duncan.

O personagem título é desempenhado por um barítono (não por um baixo), justificado pela técnica de canto da época, que reservava aos tenores papéis mais românticos . Já Lady Macbeth está destinado a uma soprano dramática com voz “áspera, sufocada e obscura, com uma matiz diabólica”. Ele estava, assim, prevendo o surgimento da grande Maria Callas!

O que se vê no Theatro São Pedro é uma ótima soprano, Maribel Ortega, com bela voz e técnica impecável, que arranca aplausos entusiasmados da platéia a cada aparição. Porém, a voz dela nada tem de áspera, sufocada, obscura ou diabólica. De qualquer forma é ela a estrela da ópera. No papel de Macbeth, o barítono Rodrigo Esteves demorou, na tarde de domingo, para conseguir arrancar aplausos calorosos do público: isso só ocorreu na terceira cena do quarto ato (“Perfidi! All'anglo contro me v'unite!”). Além de Ortega, outro merecido 'sucesso de público' foi o tenor Marcello Vannucci que, como Macduff, em suas poucas aparições sempre arrancou muitos gritos de 'bravo!' da platéia.

A orquestra em muitos momentos, principalmente no primeiro ato, encobriu os solistas e até o coro. Desencontros dentro da orquestra e também no coro foram freqüentes. A acústica do teatro é nitidamente não apropriada, uma vez que quando os cantores recuavam o som chegava até a platéia bastante atenuado.

Mas os problemas citados são superados pelo bom trabalho dos solistas, belas cenas e, sobretudo, pela música de Verdi! Vale a pena.


Para uma biografia de Verdi:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Giuseppe_Verdi

Para ler o libreto em italiano e espanhol:

http://www.geocities.com/Vienna/Choir/7652/macbeth/macbeth.htm

Para maiores informações sobre a ópera e sobre as récitas em São Paulo:

http://www.movimento.com/mostraconteudo.asp?mostra=2&escolha=5&codigo=3595


Macbeth (Verdi)

Theatro São Pedro

http://www.theatrosaopedro.org.br/

Rua Barra Funda, 171 - Barra Funda

Fone: (11) 3667.0499

Dias 21, 23, 24, 25, 27 e 29 de novembro de 2007.