domingo, 25 de novembro de 2007

Macbeth (Verdi)



Franz Werfel e eu ouvimos Macbeth, de Verdi. Vista inteiramente à luz do céu italiano, a obra é bastante antishakspeareana. A natureza é algo distante do italiano. Ela está sempre sorrindo, e não encerra, portanto, nenhum conflito.

Não há brumas místicas, nem nuvens escuras, carregadas. (...)

A Verdi só interessa o que se passa dentro das pessoas, ou as situações... cada estado da alma ele o transforma magistralmente em música; em passagem alguma a natureza se revela, o que quase sempre ocorre em Beethoven, Wagner, Weber e outros.

As aparições de fantasmas no Macbeth de Verdi são, portanto, vazias de sentido, não surtem qualquer efeito. Para Shakespeare, elas são concebidas como o sofrimento de Macbeth; projeções, na natureza e na floresta, de frutos da imaginação.

Em Verdi, a natureza não está presente. E, por ser filha de um paisagista, a mim me falta esse enorme entourage.
(Alma Mahler-Werfel. Minha Vida, Ed Martins Fontes, 1988, pp. 236-237)

Com essas palavras Alma Mahler comenta a ópera Macbeth (1847), de Giuseppe Verdi (1813-1901), com libreto de Francesco Maria Piave, baseado na obra homônima de William Shakespeare, que está em cartaz no Theatro São Pedro, São Paulo. Pertencente ao romantismo italiano, a ópera é um dos destaques da juventude de Verdi. Foi composta em 1847 e revista e retocada pelo próprio compositor em 1865 – poucas alterações significativas foram feitas na partitura.

Com poucas melodias orquestrais marcantes, o papel dos solistas e do coro se sobressai ao da orquestra. Certamente Macbeth, bem como o não terminado O Rei Lear, não são as adaptações verdianas de Shakespeare mais acertadas: Otelo e Falstaff, compostas aproximadamente 40 anos mais tarde, são indiscutivelmente superiores.

E o fato de que Verdi, habilidoso homem de teatro, não tenha conseguido elevar-se, por vezes, à altura do drama escolhido, nos faz pensar no perigo que representa, para o esforço de trabalhar sobre um texto de Shakespeare. (Alejo Carpentier. O Músico em Mim, Ed Civilização Brasileira, 2000, p. 273).
A afirmação acima é do escritor e musicólogo cubano Alejo Carpentier.

A bem-sucedida estréia deu-se 14 de março de 1847, no Teatro della Pergola, sob a regência de Verdi. Conta-se que o compositor teve que voltar ao palco 38 vezes para receber os aplausos da entusiasmada platéia.

A história se passa na Escócia, no século XI. Sob o reinado de Duncan, o guerreiro Macbeth é saldado como 'Sir' de Glamis, Cawdor e rei por três bruxas. Como as duas primeiras previsões das bruxas se confirmaram rapidamente, ele assume seu destino de rei e, incentivado por sua esposa, assassina o rei, tomando, assim, seu lugar no trono. Vários crimes se sucedem, sempre com o objetivo de sua manutenção no trono. O reinado de Macbeth é marcado, pois, por uma tirania sangrenta, gerando um grupo de insatisfeitos que, liderados por Macdoff, derrubam Macbeth e entregam o trono a Malcolm, herdeiro de Duncan.

O personagem título é desempenhado por um barítono (não por um baixo), justificado pela técnica de canto da época, que reservava aos tenores papéis mais românticos . Já Lady Macbeth está destinado a uma soprano dramática com voz “áspera, sufocada e obscura, com uma matiz diabólica”. Ele estava, assim, prevendo o surgimento da grande Maria Callas!

O que se vê no Theatro São Pedro é uma ótima soprano, Maribel Ortega, com bela voz e técnica impecável, que arranca aplausos entusiasmados da platéia a cada aparição. Porém, a voz dela nada tem de áspera, sufocada, obscura ou diabólica. De qualquer forma é ela a estrela da ópera. No papel de Macbeth, o barítono Rodrigo Esteves demorou, na tarde de domingo, para conseguir arrancar aplausos calorosos do público: isso só ocorreu na terceira cena do quarto ato (“Perfidi! All'anglo contro me v'unite!”). Além de Ortega, outro merecido 'sucesso de público' foi o tenor Marcello Vannucci que, como Macduff, em suas poucas aparições sempre arrancou muitos gritos de 'bravo!' da platéia.

A orquestra em muitos momentos, principalmente no primeiro ato, encobriu os solistas e até o coro. Desencontros dentro da orquestra e também no coro foram freqüentes. A acústica do teatro é nitidamente não apropriada, uma vez que quando os cantores recuavam o som chegava até a platéia bastante atenuado.

Mas os problemas citados são superados pelo bom trabalho dos solistas, belas cenas e, sobretudo, pela música de Verdi! Vale a pena.


Para uma biografia de Verdi:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Giuseppe_Verdi

Para ler o libreto em italiano e espanhol:

http://www.geocities.com/Vienna/Choir/7652/macbeth/macbeth.htm

Para maiores informações sobre a ópera e sobre as récitas em São Paulo:

http://www.movimento.com/mostraconteudo.asp?mostra=2&escolha=5&codigo=3595


Macbeth (Verdi)

Theatro São Pedro

http://www.theatrosaopedro.org.br/

Rua Barra Funda, 171 - Barra Funda

Fone: (11) 3667.0499

Dias 21, 23, 24, 25, 27 e 29 de novembro de 2007.



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