quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Beethoven - Nona Sinfonia!! (OSESP - 13 a 15/12)

Oh amigos, cessem esses tons!
Vamos, em vez disso,
harmonizar nossas vozes
mais agradável e alegremente! (Beethoven)

Alegria, bela centelha divina,
Filha de Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Teus encantos unem novamente
O que o rigor da moda separou.
Toda a humanidade se irmana
Onde pairar teu vôo suave.

A quem a boa sorte tenha favorecido
De ser amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma doce companheira
Rejubile-se connosco!
Sim, também aquele que apenas uma alma,
possa chamar de sua sobre a Terra.
Mas quem nunca o tenha podido
Livre de seu pranto esta Aliança!

Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos dá beijos e vinho
Um amigo provado até a morte;
A volúpia foi concedida ao verme
E o Querubim está diante de Deus!

Alegres, como voam seus sóis
Através da esplêndida abóboda celeste
Sigai, irmãos, vossa rota
Gozosos como o herói para a vitória.

Sejam abraçados milhões de seres!
Seja enviado este beijo para todo o mundo!
Irmãos! Acima da abóboda estrelada
Certamente mora o Pai Amado.

Vos prosternais, Multidões?
Mundo, pressentes ao Criador?
Buscai além da abóboda estrelada!
Além das estrelas Ele deve morar.
(Schiller)


A Nona Sinfonia de Beethoven dispensa grandes comentários. A grandiosidade da obra fez com que ela se impusesse nos mais significativos momentos da história. Composta entre 1823 e 1824, estreou em Londres, em 1825.
A Nona Sinfonia é o primeiro caso em que um poema cantado por coral e solistas é inserido em uma sinfonia. O poema, composto por Schiller, atraiu Beethoven que, desde 1818, numa época de mudanças políticas, tecnológicas e culturais, estava decidido a usá-lo em alguma de suas obras. A primeira estrofe, composta por Beethoven, revela o caráter inovador que imprimia a suas músicas.
Lamentavelmente, na cultura popular, ficou incorporada a melodia do Ode à Alegria isoladamente da rica harmonia não só do quarto movimento, onde se encontra o 'hino', mas de toda a rica sinfonia. Desse modo, o concerto da OSESP dessa semana não será a repetição de uma obra batida, mas um acontecimento musical, a oportunidade de se tomar um contato íntimo com a esse monumento em sua inteireza.
A importância histórica e musical da Nona é mais tema para um livro que para um curto comentário. Dado o teor do poema de Schiller, é curioso pensar que a sinfonia foi usada como propaganda nazista, sob o argumento de que Beethoven era alemão e se referia à raça germânica, foi executada no aniversário de Hitler, em 1942, sob a regência do grande Furtwangler... -- prova de que as pessoas sempre são capazes das mais variadas distorções para defender suas posições. Evidentemente, também foi hino de movimentos pela paz e liberdade. Foi executada, sob a regência do fantástico Leonard Bernstein, nas comemorações da queda do muro de Berlin e hoje o Ode à Alegria é o hino da União Européia.
A Nona Sinfonia influenciou toda a geração de compositores românticos, especialmente Wagner, que iniciou sua carreira musical estudando a Nona, fazendo e executando transposições dela para piano. O compositor, inclusive, fez algumas modificações no arranjo original de Beethoven que se tornaram populares na primeira metade do século XX.
Quanto às gravações, destacam-se, dentre outras, as de Furtwangler, especialmente a de 1955 com o Bayreuth Festival Orchestra, as de Karajan com a Filarmônica de Berlin, a de Gunter Wand, da década de 1950, que retomou o original de Beethoven (sem as 'correções' de Wagner) e a de Harnoncourt, sempre preocupado em ser fiel ao compositor.

Como podemos ver, não foi à toa que os ingressos para o concerto desta semana esgotaram-se em poucos dias. Os que não perderam tempo e garantiram seus lugares testemunharão um encerramento com chave de ouro da temporada 2007 da OSESP.

Que o Ode à Alegria seja o hino do Natal de 2007 e do ano de 2008 que se aproxima!!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Villa-Lobos - Choros n. 10 (OSUSP, 04/12)

Rasga o Coração
(Anacleto de Medeiros / Catulo da Paixão Cearense)

Se tu queres ver a imensidão do céu e mar
Refletindo a prismatização da luz solar
Rasga o coração
Vem te debruçar
Sobre a vastidão do meu penar

Rasga o que hás de ver
Lá dentro a dor a soluçar
Sob o peso de uma cruz de lágrima a chorar
Anjos a cantar
Preces divinais
Deus a ritmar seus pobres ais

Sorve todo olor
Que anda a recender
Pelas espinhosas florações do meu sofrer
Vê se podes ler nas suas pulsações
As brancas ilusões e o que ele diz no seu gemer

E que não pode a ti dizer nas palpitações
Ouviu brandamente, docemente a palpitar
Casto e purpural .... vesperal
Mais puro que uma cândida vestal

Se tu queres ver a imensidão do céu e mar
Refletindo a prismatização da luz solar
Rasga o coração.

Nesta noite totalmente dedicada à música brasileira, a OSUSP também tocará o Choros N° 10, para orquestra e coro misto, de Heitor Villa-Lobos. Como sabemos, a série dos Choros, toda ela composta na década de 1920, é considerada como a mais importante da carreira do compositor. O Choros 10 estreou em novembro de 1926, no Rio de Janeiro, entre duas estadias de Villa-Lobos na França.
Um fator que em geral chama a atenção nos choros é a orquestração. Para o Choros 10 ela é composta por: pícolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas em Lá, sax. alto (mib), 2 fagotes e contra-fagote, 3 trompas., 2 trompetes., 2 trombones, gr. tambor de Prov., caixa-cl., tambor, caxambú, 2 cuícas,
2 caixas de madeira, 2 reco-recos, 2 chocalhos, bombo, tam-tam, (e gongo), piano, harpa, cordas e coro misto.
Villa-Lobos fez, no Choros em questão, uma citação da música Yara, de Anacleto Medeiros, e usou o poema Rasga o Coração, de Catulo da Paixão Cearense, composto para ser cantado como a letra da canção de Medeiros. Porém, devido a um processo por plágio movido por Catulo, teve que substituir a letra por um vocalize. Hoje em dia, o Choros tem sido executado com a letra e os direitos autorais pagos à família de Catulo. Acreditamos que a OSUSP usará a letra. Outra canção usada por Villa-Lobos é Mococê-cê-maká recolhida por Roquete Pinto entre os índios.

Para maiores informações clique aqui.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Osvaldo Lacerda - Variações Concertantes sobre uma melodia de Chiquinha Gonzaga (OSUSP, 04/12)

Após executar as Brasilianas de Guarnieri, a OSUSP presenteará o público com a estréia mundial de uma composição de um de seus alunos: Variações Concertantes sobre uma melodia de Chiquinha Gonzaga de Osvaldo Lacerda. O compositor, que neste ano de 2007 está completando os 80 anos de vida, começou seus estudos em música através do piano. Foi Guarnieri quem recomendou que ele trocasse a carreira de pianista pela de compositor. Além do mestre brasileiro, Lacerda teve professores como Aaron Copland e Vittorio Giannini. Teremos a oportunidade de conhecer, em primeira mão, a composição de um dos grandes compositores brasileiros vivos.

Camargo Guarnieri - Brasilianas (OSUSP, 04/12)

A suíte Brasiliana, de Camargo Guarnieri, foi composta em 1950, sob encomenda da Kussevitski Music Foundation. Escrita logo após a publicação da Carta Aberta, é peça de um nacionalismo bastante explícito, devido ao uso ostensivo de ritmos brasileiros. Dura em média 12 minutos e divide-se em três movimentos, Entrada, Moda e Dança, seguindo esquema comum às obras de Guarnieri de dois movimentos rápidos intercalados por um lento. A peça chegou a inspirar um bailado com cenários de Mário Conde, costumes segundo desenho de Carybé e coreografia de Vaslav Veltchek, estreado em 1952, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Apesar de bastante popular, a única gravação comercial foi feita pelo próprio compositor, acompanhado da Orquestra Sinfônica Brasileira, em 1956, mas encontra-se esgotada.
(Colaboração de Wellington Bujokas)