quinta-feira, 24 de abril de 2008

Saint-Saëns: Concerto para Piano n.5 - Jean-Philippe Collard e OSESP (24 a 26 de abril)

Nesta semana o renomado pianista francês Jean-Philippe Collard interpretará, ao lado da OSESP e sob a batuta do maestro John Neschling, o Concerto para Piano número 5 em Fá Maior de seu conterrâneo Camille Saint-Saëns (1835-1921). Este concerto, o último do compositor francês, foi composto em 1896, 20 anos após o quarto concerto e 25 anos antes da morte do compositor.
Saint-Saëns foi contemporâneo de Brahms, Mahler, Wagner, Liszt (de quem foi amigo), Debussy... e está entre as importantes figuras desse período de transição entre os séculos XIX e XX. Com dois anos o pequeno Camille já começou a 'brincar' no piano que havia em sua casa. Começou a tomar aulas de música com sua mãe e sua tia e em 1846, aos 11 anos, apresentou-se pela primeira vez em público, em Paris. É interessante, ainda, apontar que em 1899 Saint-Saëns esteve no Brasil e fez concertos em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O Concerto para Piano n.5 foi composto e estreado por Saint-Saëns para comemorar seus cinquenta anos de carreira, tendo sido bem recebido pelo público e pela crítica.
O nome dado ao concerto de "Egípcio" deve-se ao fato de o concerto ter sido concluído no Egito, na cidade de de Luxor, durante uma das constantes viagens de férias de Saint-Saëns. Além disso, de acordo com o compositor, o tema principal do segundo movimento é uma canção de amor da Núbia que ele ouviu durante uma viagem de barco pelo rio Nilo.
O primeiro movimento, allegro, é marcado por dois temas principais, bastante líricos, e momentos de polifonia. Há uma sitação da ária "Mon coeur s'ouver à ta voix" de sua ópera Sansão e Dalila.
O segundo movimento, apesar de ser um andante, começa com um rufar dos tímpanos, que é seguido intensamente pelos instrumentos da orquestra, bem como pelo piano. Tal introdução abre caminho para a canção egípcia citada acima.
O terceiro movimento é um molto allegro.

Gravações importantes do concerto foram feitas pela nossa Magda Tagliaferro, por Jeanne-Marie Darré e por Jean-Philippe Collard (EMI), que teremos a oportunidade de ouvir ao vivo, na Sala São Paulo.

Referências:
Camille Saint-Saëns - Wikipédia (português);
Piano Concerto n.5 (Saint-Saëns) - Wikipedia (inglês);
Jean-Philippe Collard - Wikipedia (inglês);

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Nepomuceno: Sinfonia em Sol Menor (OSESP, 10 a 12 de abril)


O compositor brasileiro Alberto Nepomuceno nasceu em Fortaleza, em 1864, e morreu no Rio de Janeiro em 1920. No 'caminho' entre Fortaleza e Rio, Nepomuceno passou por Roma, Berlim e Paris, onde estudou e recebeu influência de compositores românticos, sobretudo de Brahms, Wagner e Grieg. Em 1895 regeu um concerto com canções suas, em português, o que gerou polêmica, já que a língua portuguesa não era considerado um idioma adequado para o canto erudito. Nepomuceno rebateu as críticas: "Não tem pátria um povo que não canta em sua língua". A luta pela valorização da música, da língua e de compositores brasileiros fez parte da vida e da carreira de Nepomuceno. Por isso, mesmo em obras onde praticamente não há o traço nacionalista, mas sim o romantismo europeu, como é o caso da única sinfonia compositor, buscam-se, com certo exagero, as tais características nacionalistas.
Nas primeiras notas do primeiro movimento da Sinfonia já se faz notar a presença de Brahms: a obra começa de forma bastante semelhante à Terceira Sinfonia do compositor alemão. Seria grande ingenuidade atribuir tal semelhança a um 'acidente'; uma homenagem ao 'mestre', porém, é uma suposição bastante razoável. Além de Brahms, Wagner também está presente na sinfonia, sobretudo no segundo e no terceiro movimentos. Movimentos rápido e repetitivos com os arcos dos violinos, por exemplo, é uma marca wagneriana. No último movimento encontramos Tchaikovsky. Tudo isso pode transmitir a impressão de que a sinfonia é pouco original e desinteressante. Ao contrário: é uma sinfonia bastante interessante de um compositor que não estava alheio à música que acontecia ao seu redor.
A versão da sinfonia que será apresentada pela OSESP é o resultado de uma reedição coordenada pelo pesquisador da USP, Prof. Rodolfo Coelho de Souza. A reedição foi feita com base nos manuscritos de Nepomuceno. Tal trabalho se mostrou necessário, uma vez que foi constatada a existência de muitos erros nas edições já existentes e feitas, inclusive, sob a suposição da existência de fortes traços nacionalistas na composição. Uma gravação existente que reflete essa tendência é a da Orquestra Sinfônica Brasileira. Na gravação da Orquestra Sinfônica de Campinas, por outro lado, já pode ser ouvida uma obra mais romântica. Será de grande interesse ouvir o resultado da pesquisa e da reedição no concerto deste fim de semana, na Sala São Paulo, sob a batuta de John Neschling.

Referências:
Wikipedia - Alberto Nepomuceno;
Alberto Nepomuceno: http://www.bn.br/fbn/musica/nepo/nepo_lis.htm

sábado, 5 de abril de 2008

Verdi: Falstaff (OSM, 05 a 13 de abril)


Está em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo a ópera Falstaff, do compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901). Em Falstaff, após Macbeth e Otello, Verdi revisita Shakespeare a partir do libretto de Arrigo Boito, que também foi o autor do libretto de Otello, dois anos antes.
Verdi nasceu no mesmo ano de Richard Wagner, também grande compositor de óperas. Em muitas óperas de Wagner pode ser notada certa influência de Verdi. Porém, quando se fala de Falstaff, nota-se a influência no sentido oposto: de Wagner sobre Verdi. Tal influência reflete-se no fato de que esta não é uma ópera na forma até então usual, com abertura, recitativos, árias, coros, sempre bem divididos, dando a oportunidade, sobretudo nas árias, de os solistas mostrarem seus dotes vocais e receberem os aplausos da plateia... Ao contrário, é um contínuo, as ações se sucedem, a música não tem intervalos, não há árias, não há recitativos, praticamente não há solos, não é dado espaço para o virtuosismo dos cantores. A trama se desenvolve, o canto está a serviço do texto e a música tocada pela orquestra está longe de ser mero acompanhamento. Por tudo isso essa ópera de 1893, a última de Verdi, é considerada uma obra-prima.

Uma boa exposição sobre a ópera e a montagem paulistana pode ser encontrada em
http://www.movimento.com/mostraconteudo.asp?mostra=2&escolha=5&codigo=3716

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sir Peter Maxwell Davies: maestro e compositor (OSESP, 03 a 05 de abril)


O maestro e compositor inglês Peter Maxwell Davies é o convidado da OSESP para reger suas próprias obras, além de duas sinfonias que diz serem suas favoritas: a 38 de Mozart ("Praga") e a 22 de Haydn ("O Filósofo", que tem esse nome devido ao diálogo entre o corne inglês e a orquestra). Este concerto segue uma tradição da OSESP: receber um compositor atual a cada temporada.

Peter Maxwell Davies nasceu em 1934 em Salford, na Inglaterra. Estudou música em Manchester, onde foi um dos fundadores de um grupo de música contemporânea.
Nos anos 70, mudou-se, juntamente com seu partner, para as Ilhas Orkney, vivendo em contato com a natureza, que passou a exercer influência sobre seu trabalho.
Ele foi um dos primeiros compositores a ter um site, na internet, com o download de suas composições: MaxOpus, aparentemente desativado.
"Händel de nosso tempo" segundo definição do maestro John Neschling, Maxwell Davies é atualmente o Master of the Queen's Music (Mestre de Música da Rainha da Inglaterra) -- cargo para o qual foi nomeado em 2004 e que deverá exercer até 2014. É ele, portanto, o encarregado de compor as músicas para as festividades reais.
Duas obras de Maxwell Davies estão no programa da OSESP dessa semana: "Concerto Strathclyde nº 10" e "Mavis em Las Vegas". A primeira obra é a conclusão (ou a "celebração", como diz o compositor), de uma série de concertos que fez, nos anos 90, quando era compositor residente da Orquestra de Câmara Escocesa. Cada um desses concertos apresentava um instrumento da orquestra como solista (assim, temos concerto para Oboé, Violoncelo, Trompa e Trompete, Clarinete, Violino e Viola, Flauta, Contrabaixo, Fagote e um grupo de 6 madeiras). Já o Concerto Strathclyde, o último da série, é "um concerto para orquestra, bastante virtuoso, do qual todos os músicos participam ativamente" -- segundo afirmou o compositor em entrevista concedida a João Luiz Sampaio e publicada em "O Estado de São Paulo" de 03 de abril de 2008. Disse, ainda: "A inspiração vem das paisagens, do mar, do ambiente das ilhas Orkney", fato pelo qual se comparou ao nosso Villa-Lobos.
Sobre "Mavis em Las Vegas", Davies contou, na mesma entrevista, que se reporta à turnê que fez com a Filarmônica da BBC pelos Estados Unidos e a um fato ocorrido em Las Vegas, onde ficou hospedado no hotel Flamingo -- todo rosa, "brega", segundo descreveu o compositor -- e teve seu nome registrado, por engano, como "Mavis". Quando um repórter foi procurá-lo para uma entrevista, disseram não haver nenhum Maxwell Davies. O repórter insistiu, dizendo tratar-se de um grande compositor inglês, a que o recepcionista do hotel respondeu: "Se fosse um grande compositor não estaria no hotel Flamingo!". Disse Davies: "achei curioso e fiz uma peça em homenagem aos músicos, recriando suas sensações sobre nossa viagem a Vegas. Os críticos detestaram, mas o público adorou. Um deles me disse que era a música mais brega que já tinha ouvido. Pensando no tema da peça, recebi o comentário como um elogio!" A peça recria, com bom humor e ironia, sons urbanos e a música americana. Logo no início, cita, nitidamente, Um Americano em Paris, de Gershwin. Certamente o inglês nos Estados Unidos entendeu perfeitamente o que o colega americano sentiu ao visitar Paris. A música segue com temas de jazz, órgão de igreja, temas mais líricos, o lado colorido e também o "brega" da cultura americana.
Segundo prometeu o compositor, "Vai ser divertido".

Referências:
Wikipedia: Peter Maxwell Davies;
Entrevista concedida a João Luiz Sampaio (O Estado de São Paulo, 03 de abril de 2008).